"We don't need no thought control. All in all you're just another brick in the wall" (Pink Floyd - The Wall)

Sunday, August 21, 2011

Fobia Social - Como Definir...




Penso que o mais trágico da Fobia Social seja justamente a dificuldade em defini-la.

Música é uma das minhas paixões (só suplantada mesmo pela literatura) e tenho um gosto bastante eclético. Aprendi com minha mãe a apreciar um gênero em moda no tempo dela, a romântica seresta. A letra de uma delas, chamada "Ontem ao Luar", de Catullo da Paixão Cearense e Pedro de Alcantara, diz: "Como definir o que só sei sentir? É mister sofrer para se saber o que no peito o coração não quer dizer". Realmente é muito difícil definir um sentimento, acho mesmo que só quem sofre desse problema e de outros semelhantes (pois é uma vasta "família"...) pode entendê-lo em sua plenitude. Os outros, incluindo profissionais da saúde, podem ter uma idéia, baseados nos nossos relatos e na observação do nosso comportamento, mas NUNCA vão ter nem uma pálida idéia do que realmente se passa em nossa mente. É mais ou menos como tentar explicar a dor das contrações do parto para quem nunca teve um filho, ou descrever uma dor de dente para quem tem os dentes perfeitos. A explicação nunca fará juz ao grau de intensidade e à natureza do sentimento. A literatura médica ainda não se decidiu nem mesmo quanto ao verdadeiro nome. A princípio, deu-se o nome de "Fobia Social" - e muitos preferem este nome até hoje - mas há uma tendência agora a chamar de "Ansiedade Social". Outra coisa que dificulta terrivelmente a definição é o fato de existirem várias manifestações, graus de intensidade e comportamento da doença. Alguns nascem fóbicos sociais, outros estão vivendo sua vida muito bem, extrovertidos e mantendo ótimas relações sociais com amigos e colegas de trabalho e, de repente, se vêem fóbicos sem quê nem porquê. Alguns tem só alguns sintomas específicos, outros tem todos os sintomas descritos e outros que nem sequer são conhecidos ainda. Uns são fóbicos sociais com uma intensidade incrível, outros são "moderadamente fóbicos". Uns conseguem sensível melhora com os tratamentos disponíveis no momento, outros nunca melhoram ou até chegam a piorar com tais tratamentos. Nem mesmo os fóbicos sociais são todos iguais, pelo que já pude perceber. A gente fica assombrada quando descobre que "não é a única no mundo a sofrer de um determinado mal", e conforta saber que muitos pensam do mesmo jeito que a gente, sofrem o mesmo, têm as mesmas reações, etc, mas, mesmo assim, não se pode falar em uniformidade.

A definição mais em voga afirma que a fobia social nada mais é do que uma "timidez patológica". A maioria das pessoas fica encabulada em certas situações socias, como por exemplo, quando estão apresentando um trabalho oral na faculdade ou tocando numa audição de piano. Há sempre um grau de expectativa quanto ao desempenho, uma certa ansiedade, o que é muito natural. O corpo da gente tem vários mecanismos de defesa (como uma descarga de adrenalina, por exemplo) que nos preparam para enfrentar situações novas e potencialmente de perigo. E tem gente "acanhada" quando é apresentada a uma pessoa nova ou quando quer paquerar alguém. Os fóbicos sociais sempre foram confundidos com os tímidos, mesmo porque a doença foi "detectada" e "batizada" há poucos anos. Lembro que sempre me diziam quando era pequena "você é muito tímida, mas com o tempo isso melhora"... Só que com o tempo isso só piorou, pois não era só timidez. A pessoa tímida tem um "friozinho na barriga" quando vai apresentar um trabalho na escola. A fóbica social começa a sofrer meses antes do dia de apresentar o trabalho e, na hora, tem tremores, suores, tontura, enjôo, rubor facial, zumbido nos ouvidos, dor de barriga, boca seca e até dormência dos membros. Quase sempre dá um branco parcial ou total, a pessoa pode esquecer até o próprio nome, quanto mais a matéria a ser apresentada. O que para os tímidos é só uma excitação, para os fóbicos sociais é pânico total, a pior experiência de sua vida, e no final das contas já não se sabe mais o que veio primeiro, "o ovo ou a galinha": ficamos com pavor de nos sentirmos daquele jeito, ainda mais na frente de outras pessoas e no final das contas acabamos nos sentindo assim justamente por "medo de se sentir assim". Que coisa! Ou seja, se parece com a timidez (por fora) mas é uma doença gravíssima e incapacitante, na maioria dos casos.

Prefiro dizer que a FS é uma "mania de perfeição" chegando `as raias do absurdo total. A pessoa simplesmente tem pavor de falhar, de passar por um vexame ou por uma situação humilhante, de fazer papel de boba na frente dos outros, de ser reprovada num exame, ou seja, de não ser perfeita. As pessoas normais, geralmente, erram o tempo todo e muitos até riem de seus próprios vexames ou gafes mas, para o fóbico social, errar vira um trauma para a vida inteira que vai ser remoido milhares de vezes em nossa mente, por anos a fio. E não precisa ser "algo de vulto" como apresentar um trabalho oral na escola ou tocar numa audição de piano. O simples fato de se servir de um refrigerante numa festa torna-se uma verdadeira tortura. Na cabeça do fóbico social, ele vai tremer e derrubar o copo, e todo mundo vai rir dele, achar que ele é um trapalhão, um estabanado, um desajeitado. Aí, claro, fica nervoso e acaba tremendo - e na maioria das vezes derrubando mesmo o copo. Dizem que a gente atrái o objeto temido e acho que é verdade, pois vira um círculo vicioso. Se a fobia só se manifestasse nos "grandes acontecimentos" (e para alguns fóbicos sociais realmente é assim, por isso digo que existem muitos graus diferentes da doença), já seria suficientemente ruim, mas não seria algo tão frequente a ponto de fazer a vida da pessoa um inferno. Mas os fóbicos como eu têm pavor de TODAS as interações sociais. Assinar um cheque numa loja, com o vendedor observando, é uma tortura: a letra sai toda tremida. Geralmente evito usar moedas na hora de pagar alguma coisa, pois com as mãos trêmulas é difícil lidar com objetos pequenos e delicados. O curioso da história é que a gente acaba tremendo por ter medo de tremer!

E se fosse só aquele determinado momento que nos incomodasse, já seria bastante ruim, mas tem também a "antecipação", que, a meu ver, é o pior de tudo, pois é o que realmente "envenena" a nossa vida, tira todo o nosso prazer e faz com que não possamos relaxar um só instante, se em algum ponto do nosso futuro existe uma entrevista ou uma avaliação, etc. Um exemplo: Digamos que daqui a seis meses vou ter que fazer um exame prático para tirar carteira de motorista (e isso realmente aconteceu comigo...). A partir do momento que nos inscrevemos e que o exame é agendado, começa a tortura. A nossa mente fica martelando na nossa cabeça, dia e noite, "você não vai passar, é muito difícil, na hora vai tremer, não vai sentir as pernas e os braços e aí, é claro, vai perder o controle do carro, vai ser horrível" "você não vai passar, é muito difícil, na hora vai tremer, não vai sentir as pernas e os braços e aí, é claro, vai perder o controle do carro, vai ser horrível" "você não vai passar, é muito difícil, na hora vai tremer, não vai sentir as pernas e os braços e aí, é claro, vai perder o controle do carro, vai ser horrível" "você não vai passar, é muito difícil, na hora vai tremer, não vai sentir as pernas e os braços e aí, é claro, vai perder o controle do carro, vai ser horrível".

É claro que a vida tem que ir seguindo em frente, enquanto o exame não vem, mas tudo perde o sabor, não há prazer em nada, não podemos relaxar e aproveitar. Vamos ao cinema, assistimos ao filme e, no meio da história, vem o pensamento "você não vai passar, é muito difícil, na hora vai tremer, não vai sentir as pernas e os braços e aí, é claro, vai perder o controle do carro, vai ser horrível" e lá se vai embora o simples prazer de assistir a um filme. Quando me casei no religioso, no Brasil (já era casada no civil aqui nos EUA), o meu exame prático de motorista (pois a carteira brasileira só é válida para turistas, não é aceita para quem já tem o Green Card e, consequentemente, status de residente) a cerimônia foi em novembro... e o exame de motorista seria em setembro do ano seguinte, dez meses depois! Pois lá estava eu, entrando na Igreja ao som de Pompa e Circunstância, braço dado com meu pai, e na minha cabeça só vinha o pensamento "você não vai passar no exame, é muito difícil, na hora vai tremer, não vai sentir as pernas e os braços e aí, é claro, vai perder o controle do carro, vai ser horrível". E isso, claro, somado ao pânico de estar ali naquela situação, sendo o centro das atenções, e com outro pensamento também "buzinando" na minha cabeça "você vai tremer e não vai conseguir colocar a aliança no dedo do noivo, vai deixar cair, vai ser um vexame total!". Claro que várias outras preocupações vão se somando, num verdadeiro efeito bola de neve (e devidamente remoídos por meses a fio, a partir do momento em que a cerimônia foi marcada) "meu Deus! e na hora de cortar o bolo? Vou tremer!!! e, pior ainda, na hora do brinde com a Champanha, como vou conseguir segurar aquela tacinha tão frágil sem tremer e derrubar, ou segurar com muita força devido à tensão e bater com muita força na hora do "tim-tim?", arriscando até quebrar as taças!" A noiva tem que sorrir, tanto para os convidados quanto para as câmeras... mas até o sorriso é trêmulo... Já pensaram na tortura de se viver assim?

Mas fico com a definição mais a nível popular: o fóbico social é alguém que tem pavor de gente. Assim como alguns ficam em pânico por causa de uma barata, ou de um lugar fechado, ou de ter que ir a um lugar alto. O trágico é que, de CERTA FORMA, a gente pode viver evitando o máximo possível baratas, ambientes fechados, alturas, etc. Mas como evitar contato com as pessoas num mundo onde a gente tem que interagir com o outro para tudo, até para necessidades básicas da vida, como se alimentar e vestir? No meu tempo de colégio, tínhamos aulas de "Moral e Cívica" e a primeira frase dos livros era: "O homem é um animal social, ninguém é uma ilha". Lembro que essa frase sempre me incomodou, pois preferia mil vezes ser uma ilha... mas o livro dizia que isso não é próprio do ser humano, e agora? "Será que não sou humana?", pensava. O filósofo existencialista francês Sartre afirmou que "o inferno são os outros" e acho que é a frase que melhor define o pensamento dos fóbicos sociais. Temos pavor de sermos observados, julgados, avaliados, pois na nossa mente nunca nos avaliarão adequadamente, sempre seremos "reprovados no teste". A sociedade é o nosso "bicho papão", sempre nos observando com seus olhos de rapina, só esperando a hora exata para dar o bote e nos destruir. Na cabeça de um FS, se um grupo de pessoas está rindo, está rindo dele. Nós sabemos que todos esses nossos medos e pavores são irracionais e sem nenhum fundamento. O mundo não gira em torno de nós. Sabemos que errar é humano e que nossa vida não vai acabar se derrubarmos um copo ou tivermos um branco no meio de uma prova oral, que é ridículo ficar em pânico por causa de coisas tão insignificantes e que é absurdo se comportar assim. Mas a nossa mente continua nos torturando sempre e sempre, numa perfeita luta entre a razão (pois sabemos que nosso medo é irracinal) e a emoção (mesmo assim, entramos em pânico). Nós SABEMOS que as pessoas (na maioria das vezes), não são uma ameaça, mas mesmo assim as tememos. Acho engraçado quando as pessoas que sabem da minha doença me convidam para uma reuniãozinha em família ou alguma festinha. Sempre me dizem "pode ficar tranquila, é tudo gente boa, todos amáveis e delicados, você vai se sentir bem". Eu SEI que as pessoas são boas, que não vão sair me atacando ou me agredindo mas, mesmo assim, geralmente não vou à festa pois as pessoas, mesmo sendo "boas", vão me ferir de alguma forma. Mas vou desenvolver melhor o tema mais adiante...

Muitos confundem a Fobia Social com Síndrome de Pânico e Agorafobia (medo de lugares abertos, de sair de casa, de multidões). As pessoas que sofrem de Síndrome de Pânico estão muito bem, seja em casa, seja numa loja, não importa o lugar e, de repente, se vêem acomedidas, sem mais nem porquê, de um pânico intenso com a sensação de que vão morrer. Aparentemente, nenhum fator externo desencadeia a crise. Os fóbicos sociais podem ter ataques de pânico, mas são sempre causados por uma situação social determinada que nos apavora. Os fóbicos socias saem pouco de casa, mas não é porque têm medo de andar na rua, e sim porque querem evitar contato com pessoas. E a multidão não nos incomoda. Sempre fui a shows de rock em estádios lotados sem problema algum. A multidão só se torna uma "ameaça" se ela estiver lá por nossa causa, ou seja, se nós formos os músicos! No mais, é aquele sentimento de "estar só no meio de uma multidão". Sabemos que ninguém vai prestar atenção a nós no meio de tanta gente, e que o foco das atenções é outro, por isso não há medo nem pânico (a não ser que a gente vá ao show com um grupo de amigos, aí a coisa muda de figura, os amigos estarão interagindo com a gente e aí sempre podemos "dar um fora", dizer uma besteira, tropeçar num degrau, e alguém (na nossa cabeça) vai rir da gente). O que tem demais em alguém rir da gente? Os comediantes vivem disso! Mas, para os fóbicos sociais, é algo intolerável e que deixa marcas...

Há também esse novo "dilema" entre chamar de fobia ou de ansiedade social. A minha antiga neurologista defendia a teoria de que não é fobia, pois as fobias fazem a pessoa evitar completamente o objeto temido. A pessoa que tem claustrofobia, por exemplo, não entra DE JEITO NENHUM num elevador ou num avião, nem amarrada. Com certeza, se forçadas a esse ponto, desmaiarão. Já o fóbico social, mesmo aos trancos e barrancos, apresenta seu trabalho oral, não empaca na porta da Igreja em seu próprio casamento, etc. Muitos profissionais da saúde, que provavelmente pensam da mesma forma, preferem chamar de ansiedade, pois é justamente o que acontece, e a prova disso é os exemplos que dei de como fico ansiosa de uma maneira irracional e desmedida em antecipação a algum evento de "exposição social". Mas ainda prefiro chamar de FOBIA, creio que o termo "ansiedade" suaviza um pouco o nome da doença, fazendo com que pareça menos grave do que realmente é. Na cabeça das pessoas "normais", ansiedade é algo muito mais ameno do que fobia (embora não seja verdade). Acho que usar o termo "ansiedade" é como colocar uma maquiagem para "embelezar" o "monstro" que é esta doença. Concordo com o fato de que as pessoas evitam totalmente as situações que envolvem sua fobia, mas no caso dos fóbicos sociais, eles têm que se expor de qualquer jeito, desde o nascimento, então acho que há uma "dessensibilização gradativa", pois as pessoas vão se expondo sempre às situações sociais de um jeito ou de outro. Aliás, é uma das técnicas usadas atualmente para "cura ou melhora acentuada" dos sintomas de FS - exposição gradativa, em ambiente controlado. Eu questiono muito este método, pois já é usado instintivamente e por total necessidade desde que somos crianças, a não ser que tenhamos sido criados por lobos numa selva, estilo "Tarzan"...Além disso, sabemos que o "ambiente controlado" não é real... uma entrevista de emprego simulada não vai ser nunca igual a uma de verdade. Mas vou desenvolver esse tema mais adiante, quando discutirei e darei minha opinião sobre os tratamentos disponíveis atualmente.

Uma vez, uma colega da faculdade me deu um conselho (ela não sabia que eu sofria de FS, nem eu! Mas sabia que eu era "diferente"...): "Sua vida vai melhorar muito no dia em que você aprender a dizer "não"". É uma grande verdade! Os fóbicos sociais não sabem dizer "não", ou melhor, têm vergonha de dizer e ficam muito embaraçados se têm que rejeitar ou recusar algo. Acham sempre que a pessoa vai insistir e que vão acabar sem argumentos e cedendo de qualquer jeito, para não fazerem papel de bobos. Sempre tive horror a comprar roupas em "boutiques", pois acabava comprando um monte de roupas que não queria, não ficavam bem em mim e acabavam mofando no fundo do armário, simplesmente porque ficava com vergonha de dizer que não queria. Até hoje evito esse tipo de loja, sempre que possível, preferindo mil vezes comprar nas lojas de departamentos onde você escolhe a vontade, sem ninguém do seu lado te seguindo e te dando mil sujestões, experimenta o que quer sem uma vendedora te espiando semi-nua na cabine à toda hora, enfim, muito mais confortável e sem stress... Mas é bem verdade que é preciso saber dizer "não", um dia tenho que aprender! É ruim ter que ficar sempre arranjando desculpas elaboradas para recusar um convite, quando era muito mais simples dizer "não, muito obrigada, não quero, não estou com vontade, não posso", e fazer "pé firme". Mas é outro ponto fraco dos FS e do qual as pessoas se aproveitam um bocado para nos manipular! E, ainda por cima, por conta disso, passamos por mentirosos. Eu, que detesto mentira, tive que mentir muitas vezes e inventar histórias complicadas simplesmente para recusar um convite para uma festa... e muitas vezes os amigos acabavam descobrindo a mentira e ficavam sem entender... levavam para o lado pessoal, achavam que eu não aceitava o convite por ser esnobe ou não gostar realmente deles... Hoje em dia prefiro ir logo dizendo a verdade: que sofro de FS e que não me sinto bem em festas... mas aí vem aquela história "ah, todo mundo lá é gente fina, garanto que você vai gostar e são poucos convidados!". Será que algum dia as pessoas vão realmente entender o que é Fobia Social?

Também somos ULTRA sensíveis à opinião dos outros sobre nós. Se alguém fala alguma coisa a nosso respeito, uma crítica qualquer ou simplesmente uma observação que não nos agrada, ficamos remoendo aquilo meses e meses, pensando na injustiça de tal opinião, de como a pessoa é ruim e injusta de nos julgar assim e de nos rotular e, se for o caso, ficamos "ensaiando" em nossa cabeça mil argumentos para rebater a opinião da pessoa, se houver uma oportunidade. Mas aí vem outro problema: os FS não sabem sustentar uma discussão ou um debate. As idéias se embaralham, acabamos entrando em contradição e até chorando. Acho que passa por aí um grande narcisismo (ou a mania de perfeição da qual já falei): a gente sempre acha que está com a razão e não suporta passar por boba ou burra. As outras pessoas admitem seus erros sem traumas, mas para os FS, isso é uma tragédia e uma vergonha! Por isso, evitamos confrontos sempre que podemos, ou no caso de nos metermos numa discussão acalorada com alguém, acabamos fugindo e, no caso de estarmos em ambiente familiar, desatamos a chorar (pois os fóbicos sociais quase nunca choram em público). E o fóbico social acredita em TUDO que se diz a respeito dele. Se alguém me diz que sou feia, pronto! Me sinto feia e acredito piamente que sou feia, e agora ninguém vai me convencer do contrário. A opinião e a avaliação dos outros nos irrita profundamente. Um exemplo: sempre gostei muito de desenhar e aprendi a pintar em tecidos quando tinha uns 4 anos, com uma vizinha. Pois todos gostavam do meu trabalho. Ainda novinha, pintava flores ou bichinhos em lencinhos para uma tia vender na repartição onde trabalhava... e vendia tudo. E depois recebia encomendas de pintar enxovais de bebês e muitas outras coisas e, já adolescente, pintava camisetas. Foi o meu primeiro ganha-pão (e o único que me deu algum prazer!). Era talentosa também no desenho, e como sempre fui fascinada por arte sacra, ficava tentando reproduzir, à lápis (e lápis comum, nem era lápis de desenhista) algumas "Madonnas" de quadros famosos. Até que não me saía muito mal e geralmente ficava satisfeita com meus esforços. Pois meu pai tinha um amigo de infância que era pintor e resolveu mostrar-lhe, um dia, um desses meus esboços... ele analisou e disse que realmente eu era talentosa, mas que os braços da Madonna eram desproporcionais ao corpo... Eu era uma criança!!!! A observação me incomodou - e ofendeu - tanto que nunca mais permiti que mostrassem meus desenhos a ninguém e até me senti desmotivada a continuar desenhando (embora não tenha desistido...). Realmente, penso que meus pais e conhecidos eram muito exigentes para comigo, mas cabia a mim não ligar para isso! A maioria dos pais sempre acaba exigindo demais dos filhos, ainda mais quando sentem que estes são talentosos, não acho isso errado (ou, se é um erro, é inconsciente, eles não são culpados), o erro era eu levar isso tão a sério! O meu papel era ignorar os comentários, ou então reclamar que as pessoas estavam sendo muito rigorosas, já que eu sabia que no momento era tudo o que podia fazer. Que, tirando um ou outro gênio, como Mozart, já era uma grande façanha uma criança pequena estar tentando reproduzir quadros de Boticelli ou Michelângelo... Mas parece que nunca conseguimos agradar a todos, não é? E agradar é VITAL para os fóbicos sociais. Poderia também ter pensado positivamente e aceitado aquela observação como um elogio, pois se a única coisa errada com o meu desenho era a desproporção dos braços, então eu devia ser uma ótima desenhista... mas não... os fóbicos sociais nunca pensam de maneira positiva!

Outro sério problema é o horror de nos sentirmos pressionados, de alguma maneira, a fazer algo. Na maioria dos casos, elimina a possibilidade de qualquer emprego, pois sempre vai existir um grau maior ou menor de exigência e de pressão por parte dos superiores. E não conseguimos lidar com pressões, é algo que simplesmente nos esmaga. Muitos sugerem que eu encontre algum emprego no qual possa trabalhar em casa, quem sabe no computador e, dessa forma, sem precisar interagir com chefes e colegas, etc. Mas.... a coisa não é tão simples assim... Já tentei alguns trabalhos de tradução por encomenda e foi um verdadeiro pesadelo, simplesmente porque a maioria das pessoas não têm noção do trabalho que dá e do tempo necessário para se traduzir um texto. Muitos querem que você traduza um texto de 300 páginas em dois dias, o que é humanamente impossível! Enfim, a pressão de terminar o trabalho e as cobranças de quem o encomendou se tornam insuportáveis e lá estamos nós perdendo horas de sono só pensando nisso! Temos medo de "obrigações".... No meu caso, só consigo mesmo fazer trabalhos voluntários, pois nesse caso, o nível de pressão e exigência costuma ser menor (nem sempre, entretanto!!! Até mesmo em alguns trabalhos voluntários me senti pressionada pelas pessoas a ponto de ter que largar tudo!). Para se ter uma vaga idéia, até responder e-mails é algo que pode se tornar uma tortura para mim: muitas pessoas ficam ansiosas para receber uma resposta e ficam "cobrando" de certa forma, seja enviando outras mensagens, seja reclamando que "sumi". Tenho verdadeiro horror a isso, é algo que me deixa com raiva. Muitas vezes estou muito ocupada com os afazeres da casa e com meu filho, outras não estou com vontade ou me sentindo inspirada para responder... e quando vejo a minha caixa postal se enchendo de e-mails a serem respondidos, sinto uma angústia terrível! A mesma coisa se alguém fica reclamando que não telefono para ela, que não visito, etc. Aí é que não visito mesmo! Não consigo "funcionar" debaixo de cobranças. Mas sei que a maioria das pessoas não faz isso por mal e sequer tem noção do quanto isso tudo me perturba. Muitas das vezes só estão querendo ser gentis ou realmente sentem minha falta por gostarem de mim... Já desisti de muitas comunidades da internet porque tinha ocasiões em que, se eu não postasse uma mensagem por dois dias seguidos, já vinha o dono da comunidade ou forum "reclamar" do meu "sumiço". Tenho certeza de que as pessoa estava só querendo ser gentil e delicada. Mas, depois de um tempo, acabo mesmo sumindo, pois é algo que me irrita terrivelmente...

Creio que já me estendo muito nos exemplos mas, no momento, parece ser a melhor maneira (ou a menos ruim...) de fazer as pessoas compreenderem o que é ser fóbico social...