"We don't need no thought control. All in all you're just another brick in the wall" (Pink Floyd - The Wall)

Thursday, September 1, 2011

Fobia Social - Primeiros Sinais

As primeiras manifestações de fobia social só ocorreram mesmo, que eu me lembre, quando comecei a frequentar a escola com 6 anos de idade. Veio me buscar a "Kombi escolar" (a escola era bem próxima, mas minha mãe sempre sofrendo de enxaquecas não se arriscava a me levar), já apinhada de crianças. Entrei e enquanto a Kombi partia fiquei acenando para minha mãe. Estava com vontade de chorar pois nunca tinha ficado afastada de meus pais na minha vida, a não ser por alguns instantes em casas de vizinhos, mas achei que seria muito embaraçoso chorar na frente das outras crianças e do motorista, o que já demonstrava que eu "censurava" um bocado meus sentimentos e tinha vergonha de manifestá-los em público pois parecia uma humilhação - olha a fobia social aí, gente! Minha mãe até sempre se gabava de como eu era corajosa e que no primeiro dia de aula, quando muitas crianças fazem berreiro e não querem deixar a barra da saia de suas mães, eu tinha acenado para ela na maior naturalidade e seguido em frente sem hesitação... lógico, foi isso o que ela viu. A coisa mais trágica da FS é justamente, na maioria das vezes, passar despercebida pois tudo ocorre na cabeça da gente e se a pessoa não é telepata, como vai saber né?

Chegando na escola, fui logo para a "salinha colorida" que a diretora tinha nos mostrado por ocasião da matrícula e que iria ser a minha sala. Sala de Jardim de Infância, cheia de brinquedinhos e cadeirinhas azuis e rosas muito bonitinhas. Depois que a sala estava cheia, a diretora veio me pegar e me levou para uma outra sala, que já estava também cheia de alunos. Era do primeiro ano, nada colorida. Uma sala comum, com quadro-negro e carteiras de verniz lustroso. Foi como um choque, mas pensei que a diretora devia ter se enganado e que no dia seguinte minha mãe iria falar com ela e corrigir o equívoco. A aula em si não me desagradou, a professora era jovem e amável e adorei ouvir a "história das vogais": o "o" com um bonezinho, o "i" sempre apanhando chuva e pingando na cabeça e assim por diante. Por ocasião da matrícula eu já tinha feito amizade com as duas filhas da diretora, uma bem mais velha do que eu e estudando em turma mais adiantada e outra mais nova, não me lembro se na minha turma ou não. Por conta disso, já consegui me enturmar um pouco para a hora do recreio. Minha mãe tinha posto na merendeira uma garrafa plástica com leite e duas bananas, mas disse que eu não precisava comer tudo (pois sabia que eu era difícil para comer e não tinha muito apetite). Realmente bebi metade do leite e uma banana e me senti saciada. E recomeçou a aula. Lá pelas tantas entra a diretora e me chama, juntamente com uns dois ou três outros alunos, e nos leva para fora da sala em direção ao corredor onde as merendeiras ficavam penduradas. Nos obrigou a comer tudo com cara enfezada, dizendo que não era para deixar resto. Senti-me muito humilhada, primeiro porque tinham "violado a minha intimidade" abrindo a minha merendeira sem a minha permissão, segundo porque estava ali, sendo de certa forma punida e humilhada na frente de outras crianças, tendo que comer sem ter nenhuma fome. As outras crianças faziam o mesmo, sem parecer se importarem, mas fiquei mortificada.

No dia seguinte, realmente, minha mãe foi à escola saber o porquê da "sala diferente" e a diretora simplesmente disse que eu era inteligente demais para a turma do Jardim, que estava pronta para a Primeira Série. Isso me desgostou muito... sempre olhava aquela salinha linda e lamentava não poder estar lá, brincando o tempo todo e cochilando em colchõezinhos. Ao invés disso, trabalho duro de copiar letras, números, a "vida séria" de uma estudante. "Um dos primeiros tijolos no Muro"...